I'm haunted by the hallways in this tiny room, the echo there of me and you.

Nesta história que acabou em reticências desenhaste-me com as linhas infinitas duma personagem chamada Eco. Infinitas quando tudo o que ecoa dentro de mim é o teu silêncio. O teu silêncio que me deixa às cegas. Ao contrário das palavras tuas que guardo numa qualquer última gaveta empoeirada dum qualquer móvel. Palavras essas que ecoam e ao ecoarem permitiam-me ver onde eu acabo. Elas embatiam nas paredes daquilo que eu sou (era?) e regressavam, com maior ou menor rapidez, elucidando(-me) a minha própria existência.
As tuas palavras são a minha existência.
Ou seriam as minhas palavras que embatiam num sorriso teu e ecoavam dentro de mim em tons de alívio?
Também já não interessa. Não vejo mais essas paredes que me cercam. Não sou mais frequência sonora. Sou luz negra que se propaga libertinamente no espaço. Também tenho medo que tu, ao quebrares o teu meu nosso silêncio me farias descobrir que a área que me define é, agora, muito mais reduzida. Consequência dessa minha falta de ti. Ou dessa minha falta de mim própria(?).
Portanto assim continuo, luz que se dissipa e que nada ilumina. Luz que não se consegue reflectir em paredes invisíveis.
São as leis da física.

«– Há alguém aqui?
– Aqui - respondeu Eco
– Vem!
– Vem! - respondeu Eco
– Por que foges de mim? ­- perguntou Narciso.
Eco respondeu com a mesma pergunta.
– Vamos nos juntar – disse o jovem.
A donzela repetiu, com todo o ardor, as mesmas palavras e correu para junto de Narciso, pronta para se lançar em seus braços.
– Afasta-te! – exclamou o jovem recuando – Prefiro morrer a te deixar possuir-me.
– Possuir-me – disse Eco.»

Livro de Ouro da Mitologia, História de Deuses e Heróis