Daqui a dois dias os ares de Pombal estarão carregados com o cheiro a fritos e o doce das pipocas e do algodão doce. A tradição repetir-se-á apesar das claras mudanças na estrutura da festa de há dois anos para trás: com as mãos ocupadas pelas farturas, os mais velhos percorrerão as estradas fechadas, Cardal acima, Cardal abaixo na esperança de encontrar aqueles que há muito tempo não vêem e que aproveitam as festividades para voltar à pequena cidade. As senhoras comentarão como aquela está mais gorda ou como a outra deixou o marido. Os senhores limitar-se-ão a ouvir as senhoras entre goladas entediadas nas imperiais. O sotaque francês debater-se-á nas ruas contra a lusofonia assim como as matrículas amarelas começam a ofuscar as brancas. Umas crianças choram pelos balões que as mães não lhes compram e outras colarão os seus olhos com fascínio, que com a idade vai desaparecendo, nas luzes da avenida e no frenesim dos carrósseis.
Os ainda mais velhos calcorrearão de corpos dados as tábuas de madeira que cobrem a Pérgula, numa dança que acabará bem tarde. Nós, os mais novos, começaremos as noites no Tapa e a terminá-las a tomar o pequeno-almoço nas pastelarias para dar conforto ao estômago inundado por jarros de sangria, garrafas de Galope e copos de cerveja.As melhores farturas continuarão a ser as da primeira roulotte a contar da esquerda para a direita e a senhora de caracóis que as serve continuará sempre a pôr mais uma de borla no saco fazendo os clientes sentirem-se especiais e voltarem. O senhor e a senhora dos gauffres continuarão a ser simpáticos como sempre. O senhor dos gelados continuará a dar-nos um gelado de borla nas últimas horas do último dia. A fonte luminosa continuará a aparecer misteriosamente cheia de espuma. O fogo-de-artifício irá, para não variar, despoletar um incêndio na mata do castelo.
E isto sim, é Bodo.
Um verdadeiro Bodo alheio a modernices "PombalVivescas" e a buracos orçamentais.
2 comentários:
ponto 1 - oh sim, vou perfurar-te com o meu berbequim do amor.
ponto 2 - quanto às festas do Bodo, só faltou referir o andar no meio da estrada e "roubar" cadeiras :)
não sei o que seria de nós ou de Pombal sem estas festas.
Assino por baixo o comentario do indivíduo grotesco que comentou anteriormente. Encontramo-nos nas barracas dos finos, oh colegas trabalhadores! :)
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