Ode à Inspectora

Exma. Senhora Inspectora Geral Paula Andrade

No decorrer da minha reclamação à empresa Música no Coração, recebi a sua resposta representativa da Inspecção Geral das Actividades Culturais, Ministério da Cultura. Para lhe avivar a memória vou relembrar que aconteceu na noite de dia 8 de Agosto: primeiro colocaram Roisín Murphy na line-up sem aviso prévio quando ela deveria estar colocada na line-up de dia 9 e segundo, as condições acústicas do Palco Planeta Sudoeste estavam claramente comprometidas devido à sua proximidade com outros dois palcos, a "Groove Box" e o "Positive Vibes" e como é óbvio, não abdiquei dos meus direitos e dirigi-me à bilheteira para pedir o Livro de Reclamações.
No conteúdo da resposta que me foi dada pela Exma. Senhora Inspectora e relativamente à primeira problemática da alteração do horário do concerto sublinho as palavras «Acresce ainda que do verso do bilhete consta a informação: Programa e elencos sujeitos a alteração sem aviso prévio". Ora Senhora Inspectora, o facto de essa informação constar no verso do bilhete não retira dela o seu carácter errático.
Seria o mesmo se escrevessem "Qualquer pessoa que possua este bilhete corre o risco de levar um biqueiro nas beiças". Só porque lá está não implica que esteja correcto e que não seja um aspecto carente de possíveis mudanças no futuro. Pois esse, Senhora Inspectora, é o que deveria ser o decurso normal de um evento: corrigir o que está mal para haver espaço para um aumento e não nos contentarmos com a estagnação da qualidade de um Festival que se ambiciona equiparar aos restantes festivais Europeus.
Até aqui, tudo mais ou menos bem mas eis que me consegue surpreender ao dizer, relativamente à problemática da proximidade dos palcos, o seguinte: «Uma vez que no decurso do festival não era possível alterar o posicionamento dos palcos por forma a evitar este problema de som, a empresa tomou as medidas possíveis, e que consistiram na alteração dos horários de actuação naquele palco, impedindo que actuassem em simultâneo com a "Groove Box"». Relativamente a isto só tenho a dizer que até nas festinhas cá da Terra, também conhecidas por Festas do Bodo, montaram, num dia, um palco para o Tony Carreira (!!!) portanto eu questiono-me, se um evento deste reduzido tamanho consegue fazer uma alteração destas, como é que um evento como o Festival Sudoeste que cobra 40€ por bilhete normal e 80€ por bilhete geral e que recebe uma média de 150 mil pessoas (agora façam as contas) não capacidade para o mesmo? E nem vou comentar o facto de ninguém ter sido inteligente o suficiente para ter percebido com antecedência que a proximidade entre os três palcos nunca daria bom resultado (para que conste não é precisa assim tanta inteligência).
Para finalizar, a Senhora Inspectora coloca a cereja no topo do bolo ao escrever: «Acrescenta ainda a empresa prestadora de serviço que o Festival Sudoeste TMN é um evento que sempre se caracterizou pela variedade de estilos disponíveis nos diversos diversos palcos. Ao adquirir o bilhete para o Festival (...) o cliente adquire o acesso a vários espectáculos (...), ou seja, mais que assistir a um espectáculo de». Não, não fui eu que me enganei, a frase ficou mesmo incompleta. Mas é compreensível, eu imagino que a Senhora Inspectora quando decidiu deixar a frase a meio pensou: "É melhor deixar assim e deixar de escrever que já atingi o limite de baboseiras, idiotices e desculpas de mau pagador admissíveis numa só frase". De qualquer das maneiras eu chego à conclusão que sou eu que sou ignorante e não tinha conhecimento dessa grande invenção festivaleira que é misturar sons de três palcos diferentes e criar um estilo novo. Obviamente reconheço e concordo com a existência de diferentes tipos de música num festival mas era-me completamente alheio que tal mistura de estilos era propositada.
Posto isto e para finalizar, aproveito para expressar a minha opinião (apesar de já saber que as opiniões são como as vaginas, cada um com a sua) e informo-lhe que essa mistura de estilos não é lá grande coisa.

Sem mais de momento,
Sara Alegrete